segunda-feira, 10 de novembro de 2008

quem canta, seus males espanta


To the centre of the city where all roads meet, waiting for you,
To the depths of the ocean where all hopes sank, searching for you,
I was moving through the silence without motion, waiting for you,
In a room without window in the corner I found truth.

In the shadowplay, acting out your own death, knowing no more,
As the assassins all grouped in four lines, dancing on the floor,
And with cold streel, odour on their bodies mad a move to connect,
But I could only stare in disbelief as the crowds all left.

I did everything, everything I wanted to,I let them use you for their own ends,
To the centre of the city in the night, waiting for you.
To the centre of the city in the night, waiting for you.





Shadowplay, Joy Division

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

butterflies on my belly

Sem pensar mais do que na assunção deste rubor, desfolha-se uma vergonha-menina que se traz com o mesmo conforto das pantufas de casa. O frio que passa é o de um leve sopro prenunciado pelo corpo. Sabe às coisas de bom sabor, como todas elas devem saber... o "quanto baste" de doce que eleva a língua ao céu da boca.
Os dedos conversam entre si, em movimentos de ansiedade como se tocassem pela primeira vez. Descobrem-se, revelam-se e desenham palavras que ecoam baixinho, num perlongamento da eterna fracção de segundo entre o sono e o despertar.
O sonho dos felizes pode ser este: estar em sítio nenhum, disperso e livre, suspenso pelo ar que respiras.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

domingo, 2 de novembro de 2008

fight club

Eu, liberto da causa que me envolve
De boca rasgada pelas palavras que cuspo
Quero engolir o mundo podre com a avidez do Bruto.
Quero fazer-te gritar as mentiras que escreves
E fazer-te pintar as caras que vês.

Eu, liberto de Ti
De olhos abertos como nunca os terás
Quero mostrar-te o vazio que te cose.
Quero contar-te os enganos que moldam o teu telhado
E contar-te as histórias dos sopros insanos
Que estão Lá e não sentes.

Eu, a tua sombra
Mostro-te a verdade batida no estômago
Como soco, como espada,
Libertando-te dos outros, que não são Teus
Como eu o sou.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

pequena purga

Não é nada salutar entreter no pensamento uma exclamação que pede Por Favor deixa-me Vir Cá Pra Fora!
E é...

PUTAS DAS VELHAS (eco... eco...)

Nada ortodoxo, muito pouco diplomático, mas ui... que bem que me faz, até porque seria chato ficar com isto cá dentro, a gerar-me algum cancro ou hemorroidal - experiências que diz que é de evitar.

As velhas conseguem ser grandes putas como?
De manhã, tens de ir pagar uma conta - cuja data passou o limite de pagamento por todas as vias sofisticadas possíveis - e decides levantar-te mais cedo. Os Serviços só abrem às 9h e como trabalhas, pensas para ti: deixa-me cá levantar um nico mais cedo, estou lá às 8h40 e serei a primeira a despaxar-me, sem espiga alguma. Mas a Velha é manhosa, velhaca e uma pêga gigante... e como que por bruxedo, topa-te a léguas e lá estará, à tua frente... batendo o pézinho e ajeitando a placa lavadinha pela manhã; fazendo fila com as amigas, as conhecidas e deconhecidas que rapidamente passam a partilhar da sua história no tempo de espera e afinal até descobrem que são primas_afastadas_do_tio_zé_antónio_do_bombarral_de_baixo_filho_da_dona_elvira.
E estão lá Todas, como que à tua espera com um olhar desafiante. As Putas das Velhas, tantas quantas possas imaginar, numa Convenção desde as 8h da manhã!

Como bater isto? Não podes... é uma manha tentacular, à qual não escapas. Vais chegar atrasada ao trabalho, mais meia-hora do que previste - mesmo porque depois uma Velha é bicho que tem muito para dizer a quem atende ao balcão, há muita coisa para cuspir para o lado de lá da barricada. E Ela sai dali, ramifica-se para outros sectores e intope-te os CTT, a companhia dos telefones, o centro de saúde, a farmácia, o sapateiro e até se estica - correndo à tua frente - para chegar primeiro que tu à fila do autocarro. Faz-te querer gritar impropérios. Puta.
Com certeza não seriam estas grandes Putas se não te lixassem desta maneira e se decidissem ir pagar as suas contas, quiçá, depois do almoço. Também seria igualmente aceitável no intervalo do programa do Goucha ou antes da torrada com cusquice fresca, mais a apontar para o lanche. Qual será a pressa da Velha? Pressa, senhoras... não a tenham que só lhes leva à Morte mais cedo.
Mas não. As Velhas lá estarão, um passo à tua frente... sempre um passo à tua frente.
Sempre.
Putas.

1-2, 1-2, teste.

É tarde, ela fuma um cigarro e arrasta a mão pela meia rasgada. É um rasgo maior que o que lhe corta o ar e engole o peito. Desejaria sair para algum lado, sair de si, mas apenas consigo trazê-la para cá onde - sem as arestas da sala - consegue suspirar sem ouvir o eco das paredes... sem bafejá-las com a inquietude modesta de quem se sente superado pela noção de ter feito o que Devia Ser feito. o Como não Deve importar, apenas a Realização que se espera da idade adulta e maturidade da pele, Desafiante, face às contradições do corpo que a acolhe.
Não consegue deixar de se sentir engolida e não querer Estar ali.
O fumo esgota-se. passou O tempo e a consumissão frívola que ela trouxe com sorrisos Promissores. Esbateram-se, esmoreceram e, mesmo assim, esperaram.
Contemplava nas coisas, nos outros e nas memórias deles a sofisticação das formas, das decisões, das perspectivas lineares e resolutas - porque é que não seria assim tão simples o Bem-Querer e o Ímpeto rompentes, cuja verdade parecia tão maior do que a aritmética de um mundo redondo? onde é que se põem as coisas que Apenas_fazem Sentido? Estava vestida do Avesso.
Procura outro cigarro, inspira e silencia qualquer movimento. Medir aquele rasgão era agora tanto de embraçoso como de libertador. Já lá estava, aberto e exposto a olho Nú. Não deixei que Ela o tapasse ou que discorresse sobre ele, apenas que medisse o vazio que trazia naquela malha: medir com porções de Mão fechada os nadas que trazia daquele buraco. E quantos conseguiria contar em cima da vezes que suspirou.

uma onda que bate

Uma onda que bate
Que te irrompe pela casa sem licença.


Um homem que morre em cena lenta
Deixa-te um quase cheiro de loucos.


Um choro colorido no ecrã,
Racionado em porções diárias de alimento
que já não te chega.


Pede mais!
Uma repetição de jogos que te entretêm,
De políticas com palavras torpes e mentiras universais...
Reveladas no gesto síncrone dos lábios
Das bocas que te dizem o que pensar.


Na caixa as cores enganam.
Vendem-se imagens bonitas, contam-se histórias,
Formatam-se sonhos em pacote temático
[prescritos como receita para um bom dormir].


Tu e a caixa que te embala os passos e te engole o espírito.
Tu e o teu sofá – no ensaio dos adormecidos.


PEDE MAIS!
E não te faças de morto que eu sei que me ouves.


A caixa disciplinadora de almas pôs-te o mundo a girar quadrado
[na sala]
[na tua mão].
Pôs-te boneco torcido
Guiado pelo desejo de, também tu, teres
Uma vida polvilhada de purpurina...
Apagando os resquícios de humanidade em ti.


Pedes mais daquele imposto directo,
Esgravatado como combustível para a alma.


Queres pôr e dispôr de Canal, de Personagem, de Grito.
Queres mudar trocando apenas as linhas com os olhos,
Sem tocar mais do que o comando em punho
[o diafragma hipnótico].


Deixas-te apodrecer sentado
Sem conhecer mais do que o que te levam à boca,
Do que comem os teus olhos.


São vácuos dentro do vácuo.
Nadas que giram,
Satélites na órbita inútil do objecto que tens por entre os dedos.


Olha-te agora.
Acorda diferente!
Vai à janela e vê-te lá fora.
Fora de ti.
Muda de árvore, de sombra, de cadeira, de página de livro, de carruagem,
De destino.

Vou dizer-te um segredo:
desliga a merda da televisão.